Especial marca os 50 anos artísticos do cantor Tom Zé
MARCUS PRETO
da Folha de S.Paulo
"A primeira vez que Tom Zé, 73, cantou "profissionalmente" foi na televisão. Era 1960 e o programa "Escada para o Sucesso" gerava comoção em sua cidade, Irará (BA). Menos nele próprio --que, até aquele dia, nunca havia visto o programa. Nem esse nem nenhum outro. Tom Zé foi cantar na TV sem nunca ter visto TV.
As cinco décadas que nos separam daquele momento são marcadas agora em "O Pirulito da Ciência - Tom Zé & Banda ao Vivo", especial que estreia amanhã no Canal Brasil. Dirigido por Charles Gavin (Titãs), foi gerado de temporada no teatro Fecap, em agosto passado.
A música apresentada em "Escada para o Sucesso" foi composta por ele especialmente para a ocasião: "Rampa para o Fracasso" --óbvia piada com o nome do programa.
O cantor Tom Zé e sua banda no teatro Fecap durante gravação do especial que estreia amanhã no Canal Brasil
Tom Zé conta que fez a música a partir de recortes de jornal. "Passei uma angústia até o momento de cantar, pois não sabia se aquelas manchetes cantadas de choque podiam ser ligadas nas cabeças das pessoas", diz.
"Quando, no primeiro paradoxo, vi que a plateia ria, entendi que seria possível fazer tudo isso que faço até hoje."
No princípio, ele diz, tentava "obnubilar" os ouvidos das pessoas para que não esperassem dele um cantor. Falava algo que era da vida do ouvinte, do dia a dia dele, coisa que nunca tinha sido letra de canção.
Por isso, ao menos no terreno da composição, não devem haver grandes diferenças entre o programa primordial e este "Pirulito da Ciência".
Se, em 1960, Tom Zé antecipava o tropicalismo em sete anos sampleando notícias de jornal em letras de músicas, trabalha hoje seguindo a mesmíssima cartilha. Mas toma cuidado redobrado para que ela não se desgaste.
"É preciso perseguir o ouvinte. 'Trair para atrair' é a expressão correta. Para manter a atenção, a pessoa tem que ser surpreendida em algum nível toda hora", diz. "Nunca fui capaz de trabalhar por contemplativo, só consigo por cognitivo. Então tenho que acabar o show antes de as pessoas terem vontade de fazer xixi. Acho que 50 minutos é o tempo exato."
"Pirulito da Ciência", que vai render uma versão em DVD pela Biscoito Fino já na primeira quinzena de fevereiro, dura bem mais que isso --vai além dos 120 minutos. Mas não há com o que se preocupar: acaba bem antes de o espectador pensar em ir ao banheiro."
O PIRULITO DA CIÊNCIATOM ZÉ & BANDA AO VIVO
Quando: amanhã, às 21h (reprise na segunda, às 16h30)
Onde: Canal Brasil
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